Coluna do Umberto Tavares: música e os feats no Brasil
Há componentes muito complexos anteriores ao feat virar um fenômeno também aqui no Brasil.
“A música e os feats no Brasil”
Há componentes muito complexos anteriores a essa “colaboração” que pode durar 2, 3 ou 4 minutos:
– Gravadora:
Às vezes conciliar interesses de gravadoras diferentes (de cada artista) bem como agenda de lançamento de um cantor com o outro que fez participação, percentual de royalties (que por muito tempo seguiu um padrão, mas hoje não mais) e até mesmo a possibilidade (que muitas vezes não há) de juntar esses artistas eu um mesmo dia, em uma mesma cidade, pra gravar um videoclipe numa data em que ambos possam, sempre foi uma dificuldade a mais para concretizar ideias de parcerias que são altamente atrativas pro público olhando à primeira vista.
– Mercado físico:
Por muito tempo soube-se que o mercado digital suplantaria o físico, mas enquanto isso não acontecia, um pensamento a respeito da “coerência” com os estilos, com o público, se mantinha mais “conservador” que hoje em um mercado amplamente liderado pelo digital. Temos atualmente playlists fortes e segmentadas por estilo. Fato. No entanto, a grande novidade da cena musical hoje é que a principal playlist, que é o TOP 50, não contempla estilo. Ela contempla as músicas mais tocadas e por consequência as mais abraçadas pelo público. Nessa grande playlist não importa se você é internacional, sertanejo, funk, pagode, pop ou axé. Você é música consumida, invariavelmente um hit abraçado pelo público e que agrada quem está ouvindo essa lista, pelo simples fato de ser música.
– Rádios:
Por muito tempo nós tivemos como medida de sucesso fonográfico a venda de produtos físicos (LP’s, CD’s, DVD’s etc…). O que determinava o “sucesso” era a quantidade de álbuns vendidos e a quantidade de vezes que o artista tocava na rádio e, por consequência, aparecia na TV. Hoje, nós temos outras várias formas de avaliação como ranking das plataformas, visualizações, interações, compartilhamentos e é aí que o digital transforma em mais “progressiva” essa questão das parcerias. Anteriormente, quando o que pautava era rádio e CD vendidos, por exemplo, tínhamos parcerias que eram evitadas porque o “artista A“ não tocava na rádio de tal segmento e, em função disso, uma participação com esse “artista A” tiraria as execuções da música fruto desse feat naquela rádio, que seria importante para o “artista B” (em teoria o “dono da música”) fazer o seu número de execuções mínimo pra que houvesse um “êxito”.
Este assunto é denso, muito mais complexo do que parece e merece outros textos pra abordar outras várias nuances que possui. O certo é que a cultura do feat entrou de vez no gosto do brasileiro e é um caminho sem volta. Um com todos, todos com um, cada dia com menos barreiras de estilo, idade ou classe. É a música cumprindo seu papel de integração, de união e de compartilhar. Nós temos a mania de subdividir, criar grupos, determinar regras e classes pra separar.